"Mulher não foi feita para lidar com máquinas". Quantas vezes já ouvimos esta frase? E o que é mais grave - de tanto se repetir, as próprias mulheres acabaram criando uma consciência de que não são capazes de lidar com as novas tecnologias. Com foco neste preconceito e na constatação de que as mulheres, e principalmente as mulheres negras, não têm o mesmo acesso às novas tecnologias, muito menos têm a mesma oportunidade de uso, a V Oficina de Inclusão Digital, realizada em Porto Alegre de 5 a 9 de junho, trouxe pela primeira vez o tema para debate.


A plenária "Inclusão Digital e Gênero" aconteceu na manhã do dia 7 de junho, no Salão de Atos, na PUC de Porto Alegre e contou com a participação da representante da Associação para o Progresso das Comunicações para América Latina, Dafne Plou, a diretora da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Sonia Malheiro e Nilza Iraci, uma das diretoras do Instituto das Mulheres Negras - Geledés.


Todas foram unânimes em reafirmar que o preconceito em relação a capacidade da mulher em lidar com a tecnologia é uma das principais barreiras de acesso dentro e fora dos grupos de mulheres. Para Dafne Plou isto reflete uma baixa estima e alta exclusão pelas e das mulheres. A alta exclusão é maior na faixa etária acima de 40 anos quando a mulher tem tripla jornada com seu trabalho fora, com a casa, os filhos e lhe sobra pouco tempo para investir em si mesma.


Segundo a representante da Associação para o Progresso das Comunicações na América Latina, proporcionar e incentivar a participação das mulheres no uso das tecnologias é fundamental para garantir às mulheres o direito a comunicação, a expor seu ponto de vista, a comunicação entre elas, a ter acesso a conteúdo e principalmente ter igualdade de oportunidades.


Para a diretora da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Sonia Malheiro, pela primeira vez o Plano Plurianual do Governo Federal se propôs a reduzir as desigualdades de gênero e raça. Ela citou como outro avanço o fato do Ministério do Planejamento passar a avaliar o impacto das desigualdades de gênero e raça nas políticas públicas implementadas.


A constatação da existência de um apartheid digital também foi colocada nesta plenária por Nilza Iraci. De acordo com a diretora do Geledés, para cada um negro com acesso a internet há 3,5 brancos tendo esta oportunidade. Nilza Iraci aponta que esta situação de máxima exclusão precisa ser vista para que todos e todas, e principalmente as mulheres negras, possam ter acesso às novas tecnologias como instrumento de transformação social, e que tenham a possibilidade de desenvolver processos, instrumentos, técnicas e canais de comunicação que formem sujeitos políticos comunicacionais. Nilza Iraci reflete sobre a importância que o acesso às novas tecnologias pode ter no fortalecimento do movimento das mulheres negras quando estas estiverem melhor habilitadas para desenvolverem seu trabalho de maneira mais qualificada, mais eficaz e com mais técnica e metodologias de racionalização. A diretora do Geledés finaliza dizendo que pensar em comunicação como um direito humano é antes de tudo imaginar que as maravilhas da sociedade da informação precisam ser compartilhadas por todos e todas.


A Oficina Nacional para Inclusão Digital é o maior evento de inclusão digital do Brasil e tem a coordenação da Secretaria Nacional de Logística e Tecnologia da Informação (SLTI) do Ministério do Planejamento. Sua 5ª edição contou com a participação de organizações da Sociedade Civil, representadas pela RITS (Rede de Informações do Terceiro Setor), Associação Cidadania Digital, SAMPA.ORG, Coletivo Digital e CEMINA. Se incorporam à coordenação e organização deste evento a Prefeitura de Porto Alegre e a Província Marista do RS.


Na página do Cemina (www.cemina.org.br) podem ser baixados os áudios das palestras de Dafne Plou, representante do Programa de Apoio a Redes de Mulheres da Associação para o Progresso das Comunicações; Sonia Malheiro - diretora da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e Nilza Iraci, uma das diretoras do Instituto das Mulheres Negras - Geledés.


Silvana Lemos

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